sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Carregador de Pianos



No modesto Votuporanguense, time que disputava a série B do Campeonato Paulista, dois jogadores se destacavam, Cardosinho por seu talento e Liminha que apresentava muita disposição para marcar o time adversário. Um dos olheiros do Flamengo assistiu a uma partida do modesto time paulista e indicou a contratação de Cardosinho. Existe uma lenda na Gávea de que Liminha foi contratado apenas como contra-peso nessa negociação. Cardosinho, o habilidoso e talentoso da dupla contratada, fez 24 jogos, ficou no clube por pouco mais de um ano e depois sumiu. Liminha disputou 513 partidas, sendo até hoje o oitavo jogador com mais partidas disputadas pelo clube. 

Liminha era o apelido de João Crevelim, paulista de Tietê (SP), nascido no ano de 1944. De família pobre, começou a trabalhar ainda menino como lavador de garrafas em uma destilaria. Começou no futebol pelo clube paulista Votuporanguense, e em 1968 chegou ao Flamengo, onde ficou até se aposentar em 1975. 

Por atuar ao lado de Carlinhos, que era chamado de Violino, Liminha foi apelidado de Carregador de Pianos. Do falecido locutor Waldir Amaral também recebeu o apelido de “Motorzinho da Gávea”. Extremamente eficiente e muito raçudo, conquistou um total de 28 títulos pelo clube, sendo os mais importantes dois Campeonatos Cariocas em 1972 e 1974. 

Marcou 29 gols pelo Mengão, sendo o primeiro deles já na sua segunda partida pelo clube, na derrota por 5 a 2 para o Guarani. Seu gol mais importante foi o primeiro gol que abriu a goleada por 5x2 sobre o Fluminense, jogo que deu ao Flamengo o título do Campeonato Carioca de 1972. 

Um caso curioso que demonstra o amor e a dedicação de Liminha pelo Flamengo, foi um Flamengo x Vasco em que o Mengão precisava desesperadamente da vitória, Liminha então prometeu que em caso de resultado positivo faria uma corrida do Maracanã até a concentração do time em São Conrado. Após o jogo, pagou a promessa e percorreu a pé longos quilômetros até São Conrado. 

Liminha também foi importante na vida de um certo garoto que começava a sua carreira como jogador do clube. Como morava em Engenho de Dentro, dava carona ao mais famoso morador de Quintino até a Gávea. Apesar dessa intimidade, não era Zico quem despertava maior carinho e admiração de Liminha, e sim outro meia, Geraldo. Em entrevistas Liminha sempre contou que era muito apegado e grudado a Geraldo, e nunca escondeu que o achava melhor jogador do que Zico. Infelizmente o destino não quis assim... 

Após se aposentar Liminha virou treinador das categorias de base, passando pelo time de juniores do Flamengo e acumulando alguns títulos. No ano de 2005, Liminha treinou o time B do Flamengo na Copa Record, um torneio disputado por profissionais, mas por ser disputado ao mesmo tempo em que o Brasileirão o Flamengo mandou o time de juniores e mais alguns jogadores não aproveitados no elenco. Foi campeão do torneio em cima do Olaria numa disputa de pênaltis, e em sete partidas obteve quatro vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Seu desempenho fez com que fosse sondado para assumir a equipe principal nos primeiros jogos de 2006 até a chegada do técnico Valdir Espinosa, mas quem acabou realizando esse papel foi Adílio. Atualmente Liminha trabalha nas divisões de base do Mengão. 

Como treinador das categorias de base Liminha já deu sua opinião do porque de vários talentos do clube não terem dado certo no time principal. Para ele a culpa dos inúmeros casos de fracasso é a pressão que dão aos garotos recém saídos dos juniores de ainda novos terem que resolver. Para ele os garotos devem subir todos juntos, entrando numa equipe já com base pronta, com uma equipe estruturada para os receber. Certíssimo, não? Que essa lição de Liminha seja usada com essa nova safra de jovens talentosos que esta sendo formada pelo Mengão!

Liminha é um dos Heróis do Mengão!

terça-feira, 26 de julho de 2011

O Lateral Toninho Baiano


É sempre difícil para um jogador trocar de clube, caso esses sejam rivais. O estoque de paciência da torcida é bem baixo, principalmente se o jogador em questão fez sucesso no rival nos confrontos diretos ou conquistando títulos. Poucos são os casos daqueles jogadores que superam a desconfiança e obtém sucesso no novo clube. Um desses casos é o do lateral direito Toninho Baiano, que veio do Mengão após boa passagem pelo rival Fluminense.

Toninho Baiano era o apelido de Antônio Dias dos Santos, que nasceu no ano de 1948, em Vera Cruz (BA). Começou nas categorias de base do Galícia como ponta-esquerda. Com a contusão do lateral-direito do time, passa a jogar na lateral, chegando aos profissionais em 1967. No ano de 1969 foi vendido ao Fluminense, onde jogou até 1975, sendo Campeão Carioca em 1971, 1973 e 1975, além de conquistar o torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1970. No clube tricolor tornou-se um jogador polivalente, atuando nas duas laterais e nas duas pontas. 

Em 1976, após o técnico do Fluminense Didi declarar que Toninho sofria de um bloqueio mental, o lateral é envolvido numa troca entre Fluminense e Flamengo. Toninho Baiano, Carlos Alberto Torres, Roberto e Zé Roberto vieram pro Flamengo, enquanto Rodrigues Neto, Doval, Renato e Paulinho Amorim tiveram o dissabor de vestir a camisa tricolor. 

O início de sua passagem não foi fácil para Toninho, pois foi muito perseguido pela torcida, que lhe culpava pela saída do atacante argentino Doval, ídolo do clube. Dono de bom preparo físico, subia constantemente ao ataque, tornando-se uma importante arma ofensiva do time, e não fugia de divididas. Com essas características Toninho Baiano acabou conquistando a torcida, e em 1977, já era visto como um dos melhores laterais do país. As boas atuações com o Manto chamaram a atenção do técnico Cláudio Coutinho, que lhe convocou para a Copa do Mundo de 1978, junto com Nelinho, do Cruzeiro. Foi titular absoluto, só ficando de fora na decisão do terceiro lugar. Fez ao todo 27 partidas e 3 gols pela Seleção. 

Pelo Mengão participou de toda a campanha do Tricampeonato Carioca de 1978/79/79(especial) e do Campeonato Brasileiro de 1980. Em 241 jogos pelo clube, Toninho Baiano marcou 23 gols, número considerado alto para um lateral. Ficou no clube até 1980. 

No ano seguinte, especulava-se que ele ainda seria o lateral da Seleção na Copa do Mundo de 1982, mas sua saída para o Al Nasser da Arábia Saudita, encerrou essa possibilidade. Ficou no clube árabe até se envolver em uma tentativa frustrada de transferência para outro clube do país e voltou ao Brasil no mesmo ano. O Al Nasser, que pedia um valor muito alto para liberá-lo não quis o vender e o jogador ficou parado. Após algum tempo conseguiu uma liminar para jogar pelo Bangu, mas o clube árabe conseguiu cassar a liminar depois de quatro jogos e ele foi obrigado a se aposentar em 1982. Aposentado, passou a se dedicar a uma loja de materiais de construção que conseguiu abrir com o dinheiro recebido enquanto jogador. Toninho morreu de mal súbito no ano de 1999, em Salvador (BA).

Toninho Baiano é um dos Heróis do Mengão!

sábado, 23 de julho de 2011

Falar em Fair Play é lembrar de Jaime de Almeida!


Após o último jogo Flamengo x Palmeiras a expressão “Fair Play” foi muito utilizada devido às atitudes e declarações do atacante alviverde Kléber. A Nação não o perdoou e perdeu um bom tempo ofendendo o atacante que apresenta em seu currículo uma série de atitudes maldosas e muitas expulsões, polêmicas estas que são muito mais numerosas que os seus gols e os títulos que conquistou. Que tal usarmos o nosso tempo de forma mais produtiva e prazerosa? Ao invés de dar audiência pra um jogador de outro time, não é melhor dar audiência a um jogador do Flamengo que foi sinônimo de “Fair Play” enquanto atuou pelo Mengão? 

Se você se interessar lhe apresento Jaime de Almeida! Seu “Fair Play” era tanto que em uma partida foi capaz de cumprimentar um jogador adversário que havia feito um belo gol contra o Flamengo. Se fosse hoje em dia será que a torcida entenderia esse nobre gesto? Provavelmente não. Seria execrado pela torcida, taxado como traidor e sairia do clube pela porta dos fundos...

Jaime de Almeida foi um jogador que se destacou pela sua conduta correta, fato que lhe rendeu a marca de ser o primeiro jogador da Seleção Brasileira a conquistar o prêmio Belfort Duarte, em 1949. O prêmio Belfort Duarte, criado pelo Código Brasileiro Disciplinar de Futebol (CBDF) em 1946, era dado ao atleta que não tivesse sofrido qualquer punição esportiva durante dez anos, tendo esse jogador participado de pelo menos 200 jogos oficiais, entre campeonatos estaduais, nacionais e internacionais. 

Jaime de Almeida nasceu em São Fidelis (RJ), no ano de 1920, mas foi revelado pelo Atlético-MG, em 1936. Fez 25 jogos pelo clube, sem marcar gols, e em 1938 é vendido para o Flamengo. É no Mengão que faz história ganhando títulos, chegando a Seleção Brasileira e sendo escolhido no ano de 1946 o melhor lateral-esquerdo da América do Sul. 

Jogador eficiente na marcação e no apoio, numa época em que poucos executavam essa função, formou com Biguá e Bria a linha que protegia a defesa do Mengão durante a conquista do Tricampeonato Carioca de 1942/43/44. Defendeu a Seleção entre 1944 e 1946, fazendo 15 jogos e  marcando um gol. 

Como jogador do Flamengo jogou durante doze anos, de 1938 até 1950, fazendo 342 jogos e marcando 31 gols. Conquistou dez títulos pelo clube, sendo os mais importantes os quatro Campeonatos Cariocas, em 1939/1942/43/44. Após se aposentar virou técnico do clube, e comandou a equipe em 69 jogos, obtendo 32 vitórias, 20 empates e 17 derrotas. 

Faleceu no ano de 1973, em Lima (PER), onde morava após treinar o Alianza Lima, de 1961 a 1966. O seu filho, que também se chama Jaime de Almeida, já jogou pelo clube, sendo zagueiro na década de 70, e hoje é auxiliar técnico do Luxemburgo.

Jaime de Almeida é um dos Heróis do Mengão!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nem a apendicite parava Moderato...



Até onde vai o amor de um jogador pelo clube? Falar nisso hoje em dia parece papo de gente inocente, pois esse "amor" acaba quando pinta a primeira "proposta irrecusável". Mas isso é de hoje, antigamente existia sim AMOR ao clube. Nós já vimos aqui no blog atletas que voltaram da sua aposentadoria para atuar pelo Mengão, casos de Píndaro em 1920 e Valido em 1944. Mas ninguém arriscou sua vida pelo clube como Moderato.

Moderato foi um ponta-esquerda do Flamengo de 1923 a 1930, que defendeu o Manto em 147 jogos, marcando 27 gols. Esse desempenho lhe garantiu a marca de sétimo maior artilheiro do clube na década de 20. Conquistou os Campeonatos Cariocas de 1925 e 1927. 

No Campeonato Carioca de 1927, Moderato jogou com uma cinta para se proteger da cirurgia de apendicite que havia feito há alguns dias. A torcida só foi saber disso depois e Moderato se tornou ainda mais do que um ídolo do clube, tornou-se um herói! Nas palavras de Ruy Castro: “A idéia de que Moderato pudesse morrer em campo, com os pontos estourados e o sangue confundindo-se com o vermelho da camisa – tudo isso pelo Flamengo – era demais para o homem comum”. 

Moderato Wisintainer era gaúcho de Alegrete, nascido em 1902. Começou sua carreira como jogador de futebol em 1920, no 14 de Julho de Livramento, uma equipe local. Após um ano jogando pelo clube gaúcho, foi para Minas Gerais jogar no Palestra Itália, hoje Cruzeiro. No clube mineiro jogou dois anos e foi contratado pelo Flamengo, em 1923. Foi no Mengão que atingiu o ápice de sua carreira, o que lhe rendeu a convocação para a Seleção Brasileira, disputando a Copa América de 1925. 

Fez sua estréia pelo clube em 27/05/1923, numa goleada de 4 x 1 contra o Botafogo. Fez inúmeras boas partidas pelo clube, o que lhe rende um lugar na disputa entre os melhores pontas-esquerdas da história do clube. Apesar disto, só vem conquistar um título pelo clube em 1925, onde ao lado de grandes nomes, como Nonô é Campeão Carioca. Nesse mesmo ano conquistaria ainda outros quatro títulos menores. O grande momento de Moderato estaria por vir. 

Em 1927 o Flamengo inicia o Campeonato Carioca perdendo de 3 x 1 para o Vasco e de 9 x 2 para o Botafogo, a maior derrota do Flamengo em jogos oficiais. Apesar do péssimo inicio o clube obtém uma reação inacreditável por todos na época, criando então a mística de que sua camisa jogava sozinha. Após conseguir ir vencendo todos seus adversários, o clube chega em igualdade de pontos com o América, 25 pontos, tendo o Fluminense na cola com 24 pontos. Flamengo e América fariam então do confronto direto uma decisão, já que a competição era em pontos corridos. Se houvesse um empate o Fluminense acabaria sendo o campeão, pois já havia vencido seu jogo e feito 27 pontos. 

O problema é que em junho, o Mengão perde seu grande jogador, Moderato, que após uma crise de apendicite é submetido a uma cirurgia. Vale ressaltar que em 1927, essa era uma cirurgia delicada já que os avanços na Medicina ainda eram limitados. Sabendo da importância do jogo, e ainda mais, da sua importância no time, o ponta-esquerda vai para o jogo decisivo com uma cinta para proteger os pontos da cirurgia de apêndice que tinha realizado. 

O Flamengo começa o jogo na frente com gol de Nonô. No início do segundo tempo é a vez de Moderato marcar, 2 x 0. Então vem o gol do América, e como consequencia a pressão pelo gol de empate. O Mengão então põe pra valer toda a sua mística raça, e com muita garra e vontade, agüenta a pressão e de forma heróica conquista o Campeonato Carioca de 1927. Dentre todos os Heróis do Mengão é impossível não destacar Moderato, que pelo seu amor ao Flamengo, subestimou sua saúde e arriscou sua vida para ser campeão, sendo premiado com o gol do título. 

Em 1930, Moderato torna-se o primeiro gaúcho a ser convocado para a Seleção Brasileira, sendo chamado para disputar a primeira Copa do Mundo no Uruguai. Jogou apenas uma partida, contra a Bolívia, e fez 2 gols, tornando-se o primeiro jogador do Flamengo a ter disputado e a ter marcado um gol pela Seleção na Copa do Mundo. Fez no total cinco jogos e marcou apenas esses dois gols. 

Após a Copa do Mundo Moderato sai do Flamengo e retorna a sua cidade natal. Lá joga por dois anos no Guarany, conseguindo ser vice campeão gaúcho, após perder a decisão para o Internacional. Em 1932, Moderato se aposenta do futebol. Morreu em 1986, com 83 anos.

O ponta-esquerda esta imortalizado no samba Memórias de um Torcedor, de Wilson Batista e Geraldo Gomes, no trecho: “Confesso que tristeza em mim é mato, pois lembro dos áureos tempos do Amado, Penna, Hélcio e Moderato". 

Moderato é um dos Heróis do Mengão!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Lâmpada Mágica e a Máquina do Tempo



Fala Nação, agora também sou colunista do blog FlaShow. Pra quem não conhece o blog, há um banner ao lado para acessá-lo. Mais uma forma de tentar dividir com vocês um pouco do que sei, e continuo aprendendo a cada dia, sobre o passado de tantas glórias do nosso Mengão. Esse foi meu post de estreia lá.

Todos tivemos que aprender História no colégio, para conhecer nosso passado e entender o que se passa no presente. Como não existe uma escola ou faculdade para aprendermos sobre o Flamengo, temos como OBRIGAÇÃO procurar informações sobre a história do nosso clube de coração. 

Por que eu disse que é obrigação conhecer nossa história? Porque o Flamengo sobreviveu à saída de muitos GÊNIOS do futebol brasileiro que atuaram pelo clube, como Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Zizinho, Zico, entre outros. Conhecendo a história talvez as novas gerações, onde eu me incluo, aprendam a não choramingar tanto quando algum ex-jogador do clube que seja considerado ídolo vá jogar em outro clube do país, como nos recentes casos do Adriano e Ibson que causaram um tremendo chororô pelas redes sociais. Convenhamos, essa não é nossa praia, certo?

Tenho 25 anos e não pude ver 99% dos grandes jogadores da história do clube, o que é pra mim uma grande frustração pessoal, já que infelizmente nunca poderei realizar. Quer dizer, posso até realizar, mas precisarei de um pouco de mágica.

Conhece aquela história do Alladim e a lâmpada mágica, né? Gênio, pedidos. Pois bem, se por algum milagre eu encontrasse essa lâmpada, saberia exatamente o que pedir, sem pensar duas vezes. Como o gênio esta trancafiado naquela lâmpada por milênios, provavelmente sairá com muito mau-humor e reduzirá meu pedido para um só. Pra quem não lembra existe uma regra que impede que o gênio “faça alguém se apaixonar por você”, ou seja, chance zero de conseguir a Paola Oliveira ou a Scarlett Johasson. Dinheiro também não pediria, é só trabalhar que se consegue. Muito ou pouco, dependerá do seu talento, dedicação e de uma dose de sorte. Se você for jogador de futebol acrescente nessa lista um empresário influente.

Eu pediria uma “máquina do tempo” pra poder voltar ao passado e assistir ao menos alguns jogos de cada um desses craques que não pude ver. Começaria minha jornada por 1914/15, acompanhando PíndaroSidney Pullen e Ricardo Riemer na conquista dos primeiros títulos do clube. Passaria em 1927 para assistir Moderato  logo após uma cirurgia de apêndice marcar o gol do título Carioca. Na década de 30 acompanharia Leônidas da Silva marcar seus 153 gols em 149 jogos pelo clube. Em seguida assistiria JurandirBiguáNewton, Domingos da Guia, Jaime de AlmeidaModesto Bria, Zizinho, Vevé, ValidoPirilo e Perácio conquistarem o primeiro Tricampeonato Carioca da história do clube.

Mudança de década. Vou para 1953 acompanhar PavãoJordanDequinhaRubens, Joel, Zagallo, Evaristo e Dida durante toda a conquista do segundo Tricampeonato Carioca do clube. Em 1961, alguns deles se juntariam a Joubert e Carlinhos na conquista do Torneio Rio-São Paulo. Eu, óbvio, estaria lá os aplaudindo de pé.

Nova mudança de década, vou pro final dos anos 70 acompanhar todos os passos de um certo Galinho de Quintino. Assistiria a conquista do Tri-Tricampeonato Carioca e toda a trajetória do time que nos daria três Brasileiros, a Libertadores e o Mundial. Choraria ao ver Zico partir pra Europa. Mas ficaria radiante, anos mais tarde, com seu retorno e a conquista do Tetra Brasileiro. No início dos anos 90 veria a conquista da Copa do Brasil e do Penta, sobre o comando do Maestro Júnior.


Se alguém criar, me interesso em comprar.

Talvez toda essa viagem no tempo viria a me trazer alguns sérios problemas de saúde. Não me preocupo. Se o preço a ser pago para assistir a esses GÊNIOS do Flamengo for a minha vida, eu pago. Morreria feliz, e realizado.

SRN!

domingo, 17 de julho de 2011

O Gigante de Pedra


Domingo sem Mengão não é domingo. Devido ao jogo do time Canarinho a partida do Mengão foi adiada. A maioria dos flamenguistas não esta ligando muito para o time verde-amarelo, e talvez um dos motivos seja a falta de um representante do clube nessa atual equipe brasileira. Azar da CBF e do Mano, e sorte nossa que não ficaremos desfalcados. Apesar do pouco interesse pelo time Canarinho, tenho uma pergunta a você leitor do blog: sabe quem foi o primeiro jogador do Flamengo a ser convocado para a Seleção Brasileira? Acertou quem disse Píndaro!

Em 1914, a Federação Brasileira de Sports, antecessora da CBF, reúne pela primeira vez jogadores das principais equipes do Rio e de São Paulo, montando a primeira Seleção Brasileira da história, para um amistoso contra o Exeter City, da Inglaterra. Píndaro e Nery, que formavam a mais forte dupla de zaga do Brasil na época, tiveram a honra de serem os primeiros jogadores do Flamengo a defenderem o time canarinho. Píndaro fez onze jogos no time Canarinho. Ao pendurar as chuteiras, o zagueiro ainda se tornaria treinador da Seleção, disputando a Copa do Mundo de 1930. Como jogador foi Campeão da Copa Roca, em 1914, e da Copa América, em 1919. 

Píndaro de Carvalho Rodrigues, nasceu em São Paulo, no ano de 1892. Foi ao lado de Nery e Borgerth um dos fundadores do time de futebol do clube. Presente na primeira partida disputada pelo Flamengo, Píndaro esteve no clube de 1912 a 1922, disputando ao todo 82 partidas e marcando três gols. Pelo clube foi quatro vezes campeão Carioca, sendo Bicampeão em 1914/15 e Bicampeão em 1920/21. 

Píndaro era um zagueiro-central alto e forte, que tinha uma grande impulsão e usava seu vigor físico para se impor aos adversários. Suas características, somadas a sua forte liderança, lhe renderam o apelido de "Gigante de Pedra". A fama de Píndaro é impressionante se analisarmos que na sua época o futebol era muito ofensivo, onde as equipes atuavam normalmente com no mínimo quatro jogadores no ataque. Dessa forma pouquíssimos defensores conseguiram se sobressair nessa época de futebol amador. 

Píndaro começou a jogar futebol no Fluminense, em 1910, sendo titular da equipe campeã Carioca de 1911. Foi um dos jogadores que ficaram insatisfeitos com a ground committee, espécie de comissão técnica da época, após a barração do atacante Alberto Borgerth. Integrou o grupo de oito jogadores que abandonaram o tricolor e criaram o Departamento de Esportes Terrestre do Flamengo, em dezembro de 1911. 

Em 1912, o Flamengo estreia sua equipe de futebol com Píndaro entre os titulares que golearam o Sport Club Mangueira por 16x2. No primeiro Fla-Flu, apesar do time perder por 3x2, o jogo é especial para Píndaro, pois marca o primeiro gol de um zagueiro pelo clube. 

Após chegar perto do título em 1913, o Mengão finalmente conquista o título Carioca, em 1914. O adversário direto pelo título é o América, que foi derrotado em dois jogos muito disputados, que no final acabariam decidindo a competição. Em uma dessas partidas, Píndaro seria decisivo. O América vencia por 1x0, e o Flamengo partia com todos os jogadores para o ataque em busca do empate. Esse ímpeto ofensivo do clube já havia nos custado algumas derrotas e viradas que impediram a conquista do primeiro título. Até que numa bola alçada na área, Píndaro marca o gol de empate, que acabou abrindo caminho para a virada por 2x1. 

Píndaro viria a conquistar o Bicampeonato Carioca em 1915, e jogaria pelo clube até 1919, quando larga os gramados para exercer a profissão de médico sanitarista da Prefeitura do Distrito Federal, na época o Rio de Janeiro. 

Em 1920, o Flamengo lidera o Campeonato Carioca, mas perde os zagueiros Burgos e Antonico por lesão. O time não tinha mais nenhum zagueiro para colocar em campo. Numa época em que os jogadores não eram tão versáteis, e não existiam as categorias de base para recorrer, o clube recorre a um dos seus antigos heróis, o aposentado Píndaro, que aceita o convite na hora, entusiasmado com a possibilidade de defender mais uma vez o Manto Sagrado. Mesmo sem ter feito um único treino, Píndaro comanda a defesa como nos anos anteriores. O Flamengo vence o Palmeiras-RJ por 5x0, e seguiria no caminho para conquistar o título carioca. Após cumprir sua missão, Píndaro volta ao trabalho de médico. Viria a disputar mais algumas partidas pelo clube, sendo sua despedida oficial em 1922. O Gigante de Pedra faleceu em 1965, no Rio de Janeiro.

Píndaro é um dos Heróis do Mengão!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O injustiçado Luiz Borracha


Luiz Borracha era reserva de Jurandir no gol do Flamengo durante a campanha do primeiro Tricampeonato Carioca. Era um goleiro ágil, forte, seguro, elástico e modesto. Não gostava de chamar a atenção de ninguém. Treinava, jogava, entrava e saia do time, tudo o mais discretamente possível. Sempre que entrava, fazia defesas eletrizantes com saltos acrobáticos. Tamanha era sua elasticidade, recebeu o apelido de “Luiz Borracha”, dado pelo locutor esportivo Ary Barroso. Foram 154 jogos com o Manto Sagrado, cinco títulos conquistados, sendo os mais importantes os Campeonatos Cariocas de 1943/44. Luiz Borracha era o goleiro que defendia o clube na maior goleada ocorrida em um Fla-Flu, os 7x0 de 1945, em que Pirilo fez quatro gols. 

O jogo mais marcante de sua carreira no Flamengo, entretanto, foi uma derrota para o Botafogo, na qual sofreu incríveis cinco gols em 18 minutos, sendo substituído sob intensas vaias da torcida rubro-negra. Foi acusado por dirigentes rubro-negros de ter se vendido ao Botafogo e saiu do time. Após deixar o futebol, as pessoas esqueceram seus dias de glória e Luiz Borracha passou por momentos difíceis em sua vida. Anos depois, reparadas as injustiças, o ex-goleiro voltou à Gávea como massagista do time principal do Flamengo. 

Luiz Gonzaga de Moura, o Luiz Borracha, nasceu em Lavras (MG), no ano de 1920. Começou sua carreira no Minas S. C., time de Barra Mansa (RJ), em 1938, ficando no clube até 1942. Em 1943, é contratado pelo Flamengo para ser reserva de Jurandir. Foi o técnico Flávio Costa quem o lançou na equipe principal do Mengão, e foi ele quem o levou para defender a Seleção Carioca e a Seleção Brasileira. Disputou a Copa América de 1946, e foi campeão da Copa Rio Branco em 1947. Assume o gol do Flamengo com a saída de Jurandir, em 1946, e fica no clube até 1949. 

Passou a contar com a antipatia da torcida após ter falhado em um gol contra o Botafogo, numa partida ocorrida no ano de 1948, em General Severino. A bola vinha para Luiz Borracha, mas Biguá se choca com ele e na sobra Braguinha marca o gol para o Botafogo. Após o lance, Biguá olha para Luiz Borracha com as mãos na cintura e acaba o jogando contra a torcida. Naquele lance Luiz Borracha estava sendo enterrado para o futebol. Dirigentes o acusaram de ter se vendido ao Botafogo e ele terminou saindo do time. As portas dos times grandes se fecharam para o goleiro, por medo de que a acusação fosse verdade. Luiz Borracha era uma vitima, ninguém conseguiu provar as acusações que lhe foram feitas, mas para uma injustiça ser reparada é preciso que o autor da acusação se retalie, fato que nunca ocorreu. 

Após essa polêmica vai para o Bangu (RJ), onde fica até 1951. Logo após se transfere para o São Cristóvão (RJ), e em 1953, vai para o Atlético Nacional (VEN), onde se aposenta em 1954. Luiz Borracha terminou como limpador de automóveis. 

Mesmo magoado com a situação que o levou a deixar o clube, acabou retornando ao Flamengo para integrar a comissão técnica, em 1956, após convite do ex-companheiro de time Jaime de Almeida. Os dirigentes do clube lhe ofereceram um cargo de auxiliar de massagista, foi retirada a calúnia que envolvia seu nome e ele passou a viver em paz. Luiz Borracha recuperou-se com a sociedade, mas seus anos perdidos no futebol ninguém conseguiria devolver. Foi um preço alto demais para um grande goleiro do Flamengo e da Seleção Brasileira. Talvez o destino tenha resolvido cobrar essa injustiça feita pelos dirigentes do clube, e quem pagou a conta foi o próprio Flamengo. 

Luiz Borracha teve um filho, apelidado de Borrachinha, que jogou nas divisões de base do Flamengo, mas não foi aproveitado. Após rodar por muitos clubes, Borrachinha foi parar no Botafogo. Entre 22/10/1978 e 27/05/1979, o Flamengo jogou 52 partidas, com 43 vitórias e 9 empates, recorde de invencibilidade para um time brasileiro, junto com o Botafogo. No dia 03/06/1979 o Flamengo jogaria no Maracanã contra o próprio Botafogo para estabelecer um novo recorde de 53 vitórias. Após o goleiro titular se machucar, Borrachinha começaria como titular, justo contra seu ex-time e do seu pai. Diante de 139.098 pessoas aconteceu o improvável, vitória do Botafogo por 1 a 0, gol do Renato Sá, que anos atrás também tinha colocado fim na invencibilidade de 52 jogos do Botafogo. Borrachinha foi um dos destaques do time alvinegro, com inúmeras defesas que lembraram os velhos tempos de seu pai. 

Luiz Borracha faleceu no Rio de Janeiro, em 1993.

Luiz Borracha em ação num clássico contra o Botafogo.
Luiz Borracha é um dos Heróis do Mengão!

terça-feira, 12 de julho de 2011

O paraguaio Modesto Bria



Modesto Bria foi um paraguaio que Ary Barroso foi buscar em Assunção para brilhar no Flamengo. Volante de estilo clássico, Bria foi o ponto de equilíbrio de uma linha média que contava ainda com Biguá e Jaime de Almeida, trio que foi fundamental na conquista do primeiro Tricampeonato Carioca da história do clube. Sua paixão pelo Flamengo fez com que adotasse o Brasil como segunda pátria, vivendo aqui até sua morte, em 1996 no Rio de Janeiro. 

Nasceu em Encarnación, em 1922, e começou sua carreira no Nacional, em 1940. Com grandes atuações chama a atenção e é contratado em 1943 pelo Flamengo através de Ary Barroso. Rubro negro fanático, o compositor foi ao Paraguai de voo fretado para não chamar a atenção dos dirigentes do time local, que quando perceberam já tinham perdido a sua grande promessa. 

Modesto Bria jogou por dez anos no Mengão, disputando ao todo 369 jogos e marcando 8 gols. Conquistou os dois últimos títulos da campanha do Tricampeonato Carioca de 1942/43/44 e o título Carioca de 1953, que viria culminar no segundo Tricampeonato Carioca do clube. Depois de encerrar a carreira Bria virou treinador das categorias de base e teve cinco passagens como técnico do time principal. Como jogador defendeu também a Seleção do Paraguai. 

Como treinador das categorias de base, Bria foi importante na formação de vários jogadores que viriam a fazer parte da Geração de Ouro do Mengão na década de 80. Quando treinava o time juvenil do Flamengo, em 1967, foi apresentado pelo radialista Celso Garcia a um menino franzino apelidado de Zico. Por conta do físico frágil do menino relutou em lhe dar uma oportunidade: “Espere aí, você está de brincadeira! Disse que ia trazer um garoto e trouxe um menino. Nós estamos fazendo aqui um trabalho sério de futebol e não fundando um berçário!”, disse Bria. Sem graça Celso Garcia pediu ao menos alguns minutos de chance para o garoto. Bria cedeu. Na primeira bola que Zico recebeu jogou a bola entre as pernas do zagueiro. Na segunda, deixou o ponta-direita na cara do gol. Durante o resto do treino o menino continuou a impressionar a todos com belas jogadas e não saiu mais do time. 

Outro grande ídolo do clube com quem Bria esteve diretamente ligado foi Júnior. Nosso eterno Maestro jogava algumas peladas na praia, e foi assistindo a uma dessas peladas que Modesto Bria, convidou o ambidestro Júnior para fazer testes entre os jovens rubro-negros. Aprovado, Júnior é até hoje o jogador que mais defendeu o Manto Sagrado.

Mozer deve boa parte do sucesso que obteve em sua carreira a Modesto Bria, o responsável por mudar a sua posição em campo. Mozer começou como atacante, mas Bria dizia que ele não passava de um centroavante deselegante, sem muito futuro no futebol. Mozer virou zagueiro, e é considerado por muitos o segundo maior de sua posição em toda história do clube. 

Nem só de acertos nas categorias de base viveu Bria. Antes de se profissionalizar no futebol, Nunes fez testes na escolinha do Flamengo, sendo dispensado pelo técnico paraguaio. Ao deixar a Gávea, Nunes profetizou: “Um dia eles vão me querer de volta, mas aí terão que desembolsar muito dinheiro”. Dito e feito! Alguns anos mais tarde, Nunes seria contratado para fazer história com a camisa 9 do Mengão.  

Como treinador do time principal, foram 83 jogos, com 45 vitórias, 15 empates e 21 derrotas. Modesto Bria era o treinador do time na maior goleada do Flamengo em Campeonatos Brasileiros Flamengo 8 x 0 Fortaleza, em 4 de fevereiro de 1981.

Modesto Bria é um dos Heróis do Mengão

domingo, 10 de julho de 2011

Pirilo, o 5° maior Artilheiro do Flamengo



Em 1945, no estádio de São Januário, o Flamengo aplicou a maior goleada de toda a história em um Fla-Flu. Comandado por Pirilo, que marcou quatro vezes, o Flamengo venceu a partida por 7x0. Mas quem foi Pirilo?

Centroavante rápido, de drible cortante e excelente visão de jogo, Pirilo chegou ao Flamengo em 1941, com a responsabilidade de substituir o grande Leônidas da Silva, que após ter brigado com a diretoria do clube seria vendido ao São Paulo. E aos poucos, fazendo muitos gols fez a torcida esquecer Leônidas. Com a incrível marca de 201 gols em 236 jogos, Pirilo é o quinto maior artilheiro da história do Flamengo, só perdendo em número de gols para Zico, Dida, Henrique e Romário. 

Silvio Pirilo Cesarino nasceu em Porto Alegre, no ano de 1916. Começou sua carreira em 1934, pelo Americano, antigo clube gaúcho. Foi para o Internacional, onde jogou entre 1936 e 1939, e lá começou a ganhar notoriedade ao substituir o centroavante Mancuso, maior ídolo do futebol gaúcho na época. Seu sucesso chamou atenção e logo foi contratado pelo Peñarol, numa época em que o futebol uruguaio costumava levar vários dos nossos principais jogadores. 

Durante uma excursão a Montevidéu, o então técnico do Flamengo, Flávio Costa, viu Pirilo em ação e recomendou sua contratação ao clube, que estava procurando desesperadamente um atacante goleador para substituir Leônidas da Silva. O Peñarol não pediu muito pelo seu passe, cobrando a quantia de vinte e cinco contos. Tal valor gerou dúvidas na torcida, “será que um jogador que custava vinte e cinco contos poderia substituir Leônidas?”. Pirilo veio para o clube sem saber que o Flamengo iria vender Leônidas e que ele teria de lutar contra o inventor da bicicleta. 

Fez sua estréia com o Manto Sagrado em 4 de maio de 1941, marcando três gols na goleada por 5x2 sobre o Madureira. Pirilo é o atacante com o melhor desempenho nas primeiras dez partidas pelo clube, com 14 gols marcados. Tal desempenho lhe rende o recorde de gols em uma mesma edição do Campeonato Carioca, com 39 gols. A maior marca anterior era exatamente de Leônidas, com 30 gols. 

Apesar do seu alto rendimento, o clube não é campeão, perdendo o título para o Fluminense, após a partida final terminar empatada em 2x2, sendo o autor dos dois gols do Flamengo. Esse jogo ficou conhecido como  o “Fla-Flu da Lagoa”, devido ao fato dos jogadores do Fluminense temendo a vitória do Flamengo, chutavam a bola para a Lagoa Rodrigo de Freitas para retardar o jogo. Como era preciso ir buscar a bola com barcos de remo, perdia-se muito tempo e o Flamengo não conseguiu vencer o jogo. 

Nos anos seguintes Pirilo conquistaria o primeiro Tricampeonato Carioca do clube, formando o histórico ataque com Valido, Zizinho, Perácio e Vevé. Foi pelo clube que chegou à Seleção Brasileira em 1942, fazendo cinco jogos e marcando seis gols. 

Pirilo teve um inimigo no futebol, Spineli jogador do Fluminense. No meio de um Fla-Flu, Pirilo e Spineli saltaram para cabecear uma bola. Ao descer da dividida, Spineli leva a mão à boca, e depois se vira para Pirilo tentando-lhe socar. O soco de Spineli passou por cima da cabeça de Pirilo, que se abaixou. O árbitro viu o lance e expulsou Spineli. Não adiantou Spineli mostrar sua boca sangrando e com quatro dentes da frente amolecidos, o árbitro não havia visto o lance de Pirilo. Depois disso, Pirilo ganhou má fama, bastava que ele entrasse na área para as pessoas ficarem esperando um lance maldoso. Em outro jogo, no Pacaembu, Pirilo deu outro soco em Spineli, mas dessa vez o soco de Spineli lhe atingiu. Os dois foram expulsos pelo juiz. Algum tempo depois Pedro Amorim, outro jogador do Fluminense, apresentou um jogador ao outro, e após muitas conversas os dois se entenderam virando até amigos. 

Pirilo ficou no Flamengo até 1947. Foi para o Botafogo em 1948 e também teve que fazer a torcida esquecer um grande ídolo do clube, Heleno de Freitas. Mais uma vez, conseguiu o feito, sendo Campeão Carioca no ano de sua estreia, ajudando a quebrar um jejum que se estendia desde 1935. Ficou no clube alvinegro até se aposentar em 1952. 

Após encerrar a carreira, tornou-se um treinador de sucesso, chegando inclusive a comandar a Seleção Brasileira. No comando da Seleção ficou marcado por ser o primeiro técnico a convocar o jovem Pelé, em 1957, para a disputa da Copa Roca contra os argentinos no Maracanã. Pirilo faleceu em 1991.

Pirilo é um dos Heróis do Mengão!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Valido, o Herói do título de 1944


Vitória do Mengão sobre o São Paulo por 1 x 0, com gol de argentino, o meia Bottinelli. Nada melhor do que aproveitar o gancho para falar de outro jogador argentino que decidiu um jogo histórico a favor do Mengão com seu gol. Trata-se de Valido, ponta-direita autor do gol que deu o 1° Tricampeonato Carioca da história do clube em 1944. 

Agustín Valido nasceu no ano de 1914, em Buenos Aires. Começou sua carreira de jogador no Boca Juniors da Argentina em 1934, sendo logo de cara Campeão Argentino. No final da temporada se transfere para o Lanús, onde fica até 1937. Nesse ano, faz um amistoso no Rio de Janeiro contra o Flamengo pelo Combinado Becar-Varella e sua atuação atrai a atenção dos dirigentes do clube que acabam o contratando. 

Jogou no Mengão de 1937 até 1943, ano em que “teoricamente” se aposentou. Valido já era ídolo do clube, onde havia conquistado os títulos Cariocas de 1939 e 1942, mas é após a volta de sua aposentadoria que entra definitivamente na galeria dos grandes heróis do clube. 

Em 1944, já aposentado e empresário, Valido vai à Gávea disputar uma pelada com operários da sua gráfica. Seu desempenho enche os olhos do técnico Flávio Costa, que o convida para voltar ao time durante a reta final do Campeonato Carioca. O convite de Flávio Costa acontece porque o treinador não poderia contar com Perácio, que servia ao Exército, Pirilo, com uma inflamação no púbis, Modesto Bria com furunculose, além de Zizinho gravemente doente. Consciente dos desfalques e por amor ao clube, Valido aceita o convite e após ficar um ano e sete meses sem jogar futebol profissionalmente, volta aos gramados logo em um clássico contra o Fluminense. 

O resultado? Uma goleada de 6x1. Porém o esforço durante a partida deixou Valido quase incapaz de andar, devido à falta de ritmo de jogo. Para completar ainda contraiu um resfriado no decorrer da semana decisiva. Flávio Costa não tendo outras opções, não abriu mão da presença do argentino no que seria a partida decisiva contra o Vasco. E mesmo com 39 graus de febre, Valido foi para o jogo. Para a nossa sorte! 

Durante todo o jogo o Flamengo parecia estar jogando com um a menos em campo. Valido apenas fazia número na ponta direita e o Vasco mandava no jogo. Aos 41 minutos do segundo tempo, uma falta é marcada para o Flamengo na lateral esquerda da área vascaína. Na cobrança Vevé cruza para o meio do tumulto, e o febril Valido salta mais que todos os zagueiros vascaínos cabeceando para o fundo das redes. 1 x 0 no final do jogo, sem a possibilidade de qualquer reação para o Vasco. Foi o gol da raça, do amor ao Manto Sagrado. O gol do primeiro Tri. 

O lance gerou muitos protestos por parte dos vascaínos que alegavam que Valido ao ver que não conseguiria cabecear apoiou-se com os dois braços nos ombros do lateral Argemiro, que caiu sentado no lance. O Vasco ainda tentou de todas as formas possíveis invalidar o gol e também a partida. O lance do gol havia sido filmado e os dirigentes cruz-maltinos utilizaram o filme como prova na Federação Carioca de Futebol. De nada adiantou o chororô, pois a Federação não anulou nada e o Flamengo continuou Tricampeão Carioca. 

Valido faleceu com 84 anos no Rio de Janeiro, no dia 23 de fevereiro de 1998. O jogador antes de morrer afirmou que o Flamengo foi a maior emoção de sua vida. Foram no total 143 jogos e 45 gols pelo Mengão.


O polêmico lance de Valido. Foi falta? Deixe sua opinião nos comentários!

Valido é um dos Heróis do Mengão!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pavão



É comum vermos jogadores cujo apelido é um nome de animal, e através desse apelido este jogador acaba sendo conhecido no meio futebolístico. Pato e Ganso, hoje titulares do time Canarinho, são alguns exemplos. 
O Flamengo também tem o seu representante da fauna brasileira. Enganou-se quem acreditava se tratar do paraguaio César "El Tigre" Ramirez, campeão da Copa do Brasil de 2006. Trata-se de Pavão, ídolo do Mengão, que no clube viveu seus dias de glória e marcou época sendo um dos principais atletas na conquista do segundo Tricampeonato Carioca em 1953/54/55. Além dos títulos, deixou seu nome marcado na história rubro-negra através do famoso samba composto por Wilson Batista, Samba Rubro-Negro, em que o músico cita os craques da equipe: "O mais querido tem RubensDequinha e Pavão. Eu já rezei pra São Jorge pro Mengão ser campeão".

Pavão,cujo nome real era Marcos Cortez, foi um zagueiro-central que nasceu em Santos, em 1929, e começou sua carreira de jogador na Portuguesa Santista, no começo dos anos 50. Em 1951, transfere-se para o Flamengo, onde fica até 1959, fazendo 348 jogos pelo clube e cinco gols. Conquistou um total de 19 títulos, sendo o mais importante a conquista do Tricampeonato Carioca 1953/54/55. O sucesso no clube lhe rendeu uma passagem pela Seleção Brasileira, onde conquistou a Taça Oswaldo Cruz, em 1955.

Sua estréia com o Manto Sagrado aconteceu no dia 18 de março de 1951, na vitória por 4 a 2 sobre o São Paulo em partida válida pelo Torneio Rio-São Paulo. Em seus dois primeiros anos como jogador do Flamengo não obtém conquistas expressivas, mas durante esse período inicia-se a formação do time que conquistaria o segundo Tricampeonato Carioca em 1953/54/55, com a chegada de jogadores como Garcia, Joel, RubensDequinha e Biguá.

Pavão inclusive é responsável direto por essa conquista, pois no terceiro jogo da final de 1955 contra o América, onde o clube precisava vencer por três gols de diferença para ser campeão, além de cumprir com sua função defensiva, quando o placar do jogo ainda estava 3 a 1, se aventurou no ataque e arriscou de longe um violento chute que acertou a trave. Na sequencia do lance Evaristo de Macedo pegou o rebote e Dida marcou, garantindo o título para o Mengão.

Em 1959, Pavão voltou para sua cidade natal e passou a defender o Santos. Existe uma lenda de que o Santos ainda deve para o Mengão até hoje uma quantia da compra do seu passe. Pelo clube santista conquistou o título do Torneio Rio-São Paulo de 1959, e o bicampeonato paulista em 1960/61, jogando ao lado de Pelé. Pavão não chegou a participar das conquistas internacionais do clube, pois encerrou sua carreira profissional em 1962, antes dessas competições. O ex-jogador morreu em 2006, vitima de cirrose.

Pavão é um dos Heróis do Mengão!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Violino

26 de novembro de 2009. Primeiro dia de vendas dos ingressos para o último jogo do Brasileirão, Flamengo X Grêmio, jogo que viria a dar o Hexacampeonato do clube. Chego à Gávea por volta de 8:00, a fila dobra a sede do clube. Após muitas horas debaixo do sol chego na altura da entrada da sede, algumas árvores. Momentos de alívio. Converso com alguns torcedores quando observo um senhor meio fragilizado, de andar devagar, aproximando-se para entrar no clube. Reconheço o senhor, é Carlinhos. Falo com as pessoas próximas a mim, eles ficam em dúvida, mas quando passa em nossa frente eles tem a certeza. Confesso que sou meio bobo, quando vejo um desses monstros fico emocionado, como fiquei ao falar com o Leandro, Adilio e Júlio César "Uri Geller". Com jogadores normais não, a reação é normal.

"Obrigado Carlinhos por tudo que o senhor fez pelo Flamengo, tanto como jogador, quanto como técnico!" digo-lhe enquanto o cumprimento. Ele sorri timidamente e me diz "De nada, de nada...", e com todo o talento de quem comandou o meio campo do Mengão entre 1955 e 1970, ele me dribla, entra no clube para seu carteado e fico sem poder lhe pedir um autográfo...
Carlinhos, o Luís Carlos Nunes da Silva, nasceu no Rio de Janeiro, em 1937. Apoiador de estilo refinado, era um mestre na condução de bola. Por tratar a bola com muita elegância e carinho, foi apelidado de Violino. Fez toda sua carreira no Flamengo, sendo o sétimo jogador com mais jogos pelo clube, 517 jogos e 23 gols marcados. Como jogador foi Campeão Carioca em 1963 e 1965, e Campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1961. Como técnico foi Campeão Brasileiro em 1987 e 1992, Campeão Carioca em 1991, 1999 e 2000, além de Campeão da Copa Mercosul de 1999. Foi um dos poucos jogadores a ganhar o Prêmio Belfort Duarte, por nunca ter sido expulso de campo.

Sua história no Flamengo começa em 1954, no jogo de despedida de Biguá, que ao encerrar a carreira entrega suas chuteiras ao ainda jovem Carlinhos, formado nas categorias de base do clube após trocar o infantil do Botafogo pelo Flamengo. Flamenguista desde criança, entra no time jogando com ídolos pessoais, como Dequinha e Rubens
Carlinhos é considerado um dos melhores jogadores de meio campo de todos os tempos do futebol brasileiro, apesar de nunca ter feito carreira na Seleção Brasileira, disputando apenas uma partida, no ano de 1964 contra Portugal, no Maracanã. Esteve na lista de 41 jogadores convocados por Aimoré Moreira para a pré-preparação para a Copa do Mundo de 1962, mas para ter equilíbrio entre os convocados cariocas e paulistas, a comissão técnica acabou levando Zequinha, jogador do Palmeiras, para a reserva de Zito.

Repetindo o que fez Biguá, Carlinhos em sua partida de despedida, na vitória por 1x0 contra a Seleção Carioca pelo Troféu General Mendes de Morais, em 1970 no Maracanã, deu suas chuteiras para um garoto magricela que apontava como futuro grande craque... nada mais, nada menos do que Zico!

Carlinhos em sua despedida do futebol, entregando seu par de chuteiras para Zico.

Mesmo após pendurar as chuteiras não perdeu vínculo com a Gávea, considerada por ele "sua segunda casa". Trabalhou no clube por muitos anos, e recebeu uma primeira oportunidade como treinador do time profissional ao substituir Paulo César Carpegiani, em 1983, onde atuou interinamente por apenas cinco partidas antes da chegada de Carlos Alberto Torres, que seria Tricampeão Brasileiro. Carlinhos chamava atenção pela habilidade com que diversas vezes contornou situações difíceis no clube, e em pouco tempo conseguiu se desvencilhar da condição de “eterno interino” passando a ser respeitado como treinador, após a conquista do Tetracampeonato Brasileiro, em 1987. Em 1991, com um time considerado mediano conquista o Campeonato Carioca. No ano de 1992, comanda o time na surpreendente reação no Campeonato Brasileiro e se sagra Pentacampeão sobre o Botafogo. Em 1999, assume um time recheado de garotos formados no clube e leva a equipe ao título Carioca e da Copa Mercosul. Sua última passagem pelo Flamengo ocorreu entre maio e outubro de 2000. Algum tempo após a sua demissão, Carlinhos assumiu o cargo de diretor técnico, cargou em que ficou por pouco tempo.

Carlinhos chegou a treinar outros clubes como o Guarani, mas foi no Flamengo que se firmou como grande treinador, tendo sete passagens pela Gávea. É considerado por muitos, inclusive pro mim, como melhor técnico da história do Flamengo, apesar da vasta lista de grandes treinadores que passaram pelo Mengão.

No dia 12 de fevereiro desse ano, Carlinhos foi homenageado pelo clube com um busto de bronze em uma praça dentro do clube batizada com o seu nome. Na cerimônia, o clube também lhe ofereceu sete medalhas comemorativas, uma por cada título conquistado como treinador da equipe rubro-negra.

Carlinhos é um dos Heróis do Mengão!